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Laura Costa — A Bela Adormecida

Obra da singular ilustradora portuense em exposição na Casa do Design.

A Casa do Design de Matosinhos acolhe, de 16 de maio a 15 de setembro, a exposição Laura Costa - A Bela Adormecida, uma mostra com a curadoria de Jorge Silva dedicada à obra da ilustradora portuense, que marcou de forma peculiar a ficção para crianças, os manuais escolares, os postais ilustrados e as ilustrações para jornais ao longo do século XX. Laura Costa (1910-1993) foi, na juventude, amiga dos mais emergentes artistas e partilhou as ousadias vanguardistas do seu tempo, mas as suas obras sempre negaram o academismo reinante no Porto. É no final dos anos 1920 e durante a década seguinte que encontramos o melhor da obra ilustrada de Laura Costa, na ficção para crianças e nos manuais escolares. As suas temáticas preferidas, crianças e costumes tradicionais, e a abundância de ilustrações ligadas à religião católica poderiam fazer dela uma propagandista do Estado Novo, mas a sensualidade (e mesmo sexualidade) das suas personagens nunca foi vista com bons olhos pela propaganda do regime e pela “Política do Espírito” de António Ferro. É por isso que fica de fora das grandes encomendas oficiais do regime, que também a prejudica pela sua condição de mulher e pelo facto de viver no Porto. Quando não há necessidade de cumprir o roteiro narrativo nas suas obras, Laura Costa eclipsa a presença masculina das ilustrações sagradas e profanas. Isso é muito visível nos postais ilustrados de Boas Festas elaborados para os CTT e nas primeiras páginas especiais para o jornal “O Primeiro de Janeiro” sobre o Natal e o São João. Muito importante também é a sua vasta colaboração com a Editorial Infantil Majora, em jogos de mesa, postais para colorir e uma miríade de coleções de livros infantis, com textos simplistas mas ilustrações riquíssimas. Toda a obra gráfica de Laura Costa está marcada por um estudo profundo do traje tradicional português, principalmente o do meio rural. Essa característica é recorrente na obra de artistas contemporâneos da ilustradora portuense, como Alice Rey Colaço, Raquel Roque Gameiro, Sarah Afonso ou Milly Possoz, mas Laura estabelece um desígnio mais alternativo quando se inspira nas muitas visitas que fez a aldeias e vilas do Norte do país, através das quais tece um inventário muito próprio de artes, costumes, cores e matérias, tudo em linha com a sua cultura progressista e despida de preconceitos sociais, numa curiosa democratização, que esbate diferenças e desníveis sociais. Laura Costa é uma Bela Adormecida que não acompanhou o frenesim das vanguardas estéticas a partir dos seus tempos de estudante. Tem, na história da ilustração portuguesa, um percurso singular, repleto de mistérios e equívocos. A exposição Laura Costa estará patente até ao dia 15 de setembro e ocupa o espaço de entrada na Casa do Design, onde também está disponível para o público a exposição Para Ser Eterno Basta Ser um Livro.