O trabalho multifacetado do ilustrador João da Câmara Leme.
João da Câmara Leme (Beira, Moçambique,1930 - Lisboa, 1983) será sempre um caso à parte na riquíssima história da ilustração portuguesa. A inesgotável inventiva e a extrema delicadeza, conceptual e gráfica, marcam toda a obra do artista. Num tempo em que abundam talentosos ilustradores-designers, Câmara Leme destaca-se ainda pela multiplicidade de registos, a sofisticação de recursos gráficos e uma manualidade pictórica de grande sensibilidade. O seu traço será uma poderosa marca autoral, transversal a todas as declinações gráficas da sua obra.
A produção artística de João da Câmara Leme reparte-se por dois eixos essenciais: a indústria do Turismo e a edição de livros. Para a primeira, que pratica muito cedo, a partir dos finais dos anos 50, produzirá catálogos, brochuras e cartazes que, apesar do enquadramento na propaganda do Estado Novo, fará com uma extrema elegância formal, mesmo no registo, mais tardio, de liliputianas figuras em esculturas gráficas que sugerem a gravura em madeira. A sua obra de capista está concentrada, basicamente, numa única editora, a Portugália, uma das mais pujantes da época.
É na Portugália que o artista desenvolverá, numa meteórica década, uma obra gráfica absolutamente genial, para uma direção literária que arriscará autores e géneros arredados da cinzenta cultura portuguesa e do olho vigilante da Censura. Inspirado nas vanguardas europeia e americana, João da Câmara Leme, cúmplice de poetas e romancistas, pintores e designers, está completamente comprometido com a arte e cultura do seu tempo.